domingo, 16 de novembro de 2008

De repente, Literatura - Stella Salim

As Banhistas (The Bathers) - Gustave Courbet

Quatro Bailarinas - Edgar Degas


Amigdalite. Dor. Dor. Dor.

Não sei se a dor tamanha que estou sentindo me motivou a escrever. Sei apenas que me estimulou a pensar neste ano, única coisa que posso fazer imóvel, evitando dores. Aprendi tantas coisas. Ignorei tantas outras.
Ontem numa conversa [in]formal com o namorado no messenger lembrei-me das aulas de Literatura. Tudo porque falávamos sobre arte. É intrigante o amadurecimento de idéias durante um ano.

Romantismo. Realismo. Naturalismo. Parnasianismo. Simbolismo. Na minha cabeça, uma briga de idéias e valores, cada qual criticando e inovando pensamentos. Reflexo de momentos históricos.

Romantismo é aquele movimento que nos lembra flores, bombons, poemas de amor, enfim, romantismo com letra minúscula. Sim, o Romantismo deixou sua essência entre nós. Indo mais fundo, houve três gerações: a Nacionalista ou Indianista, a Byronista (a mais interessante, na minha opinião) e a Condoreira. Dentro de um mesmo movimento, focos diferentes.

Realismo. Ah! Víamos traços dessa escola literária já na terceira geração romântica. Os condoreiros faziam alusão aos problemas sociais - no Brasil, lutaram pela abolição da escravatura e pela República. A alienação do Romantismo foi fortemente repreendida pelo Realismo. Afinal, o momento histórico que estavam vivendo, a Revolução Industrial, cujas contradições já apareciam, solicitava mais. Tentavam retratar a realidade como ela verdadeiramente era, sem floreio. Era como se o romântico visse a realidade por de trás de um véu e o realista na frente deste, podendo ter uma visão mais ampla, que abrangesse a realidade nua e crua, objetiva.

Na realidade, o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo nasceram quase que em mesma época. Eram movimentos anti-românticos, ou seja, queriam uma realidade transparente. Como eu, deve estar se perguntando por que não são um movimento só. A resposta é bem lógica. Têm aquele objetivo em comum, mais o objetivismo e as descrições, porém guardam diferenças ideológicas que podem ser colocadas assim: o Naturalismo é um Realismo mais científico e o Parnasianismo retorna à cultura clássica, abandonada pelos românticos. Ei, esse assunto muito me interessa! Merece até um parágrafo.

A arte, a literatura, a ciência e a maioria - se não todas - das coisas se constroem em ciclos. Os parnasianos tentavam retomar a cultura clássica a fim de reaverem a objetividade, o alto nível vocabular (se preocupavam tanto com a perfeição formal que foram considerados alienados) e o racionalismo, pontos pelos quais o Romantismo passou por cima. Ciclo lembra doença. Vão me dizer que nunca passaram horas estudando Biologia? E exemplo mais simples não há: o desenvolvimento humano. Adolescentes se tornam adultos. Filhos se tornam pais. As revoltas na adolescência tão criticadas pelos pais são esquecidas, o ser humano ao longo da vida adquire responsabilidades. E mesmo que este seja considerado liberal, em algum ponto, encontramos o velho pai conservador criticado pelos filhos. É atributo dos seres humanos a contradição e a busca pelo novo, mesmo que de novo tenha apenas a roupagem.

Por fim, temos o Simbolismo que emergiu com severas críticas ao Realismo. Acreditavam que assim como a ciência, a linguagem e a pictórica são limitadas. Sendo assim, não conseguimos retratar a realidade como ela realmente é, no máximo, sugeri-la. Sugestão: eis a palavra-chave do Simbolismo. A pintura expressa muito bem a diferença de pensamento, podem comparar As Banhistas, de Courbet e Quatro bailarinas, de Degas (são as pinturas que ilustram esta postagem, respectivamente). O Simbolismo visava primordialmente à sonoridade na obra a fim de aproximá-la da música, utilizando recursos como aliteração e assonância. Outra característica seria o equilíbrio entre o concreto e o abstrato, conseguido através da sinestesia, recurso de linguagem que consiste no cruzamento de campos sensoriais diferentes.

Bom, no próximo ano aprenderei mais sobre a Literatura. Foi um bom exercício mental escrever sobre algo que tive o prazer de estudar. Vou-me, encantada e grata. (Muito obrigada, Karen!)

-- Stella Salim --
Blog da autora:
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3 comentários:

Anônimo disse...

É uma enorme alegria ter o meu texto neste blog. Nunca pensei que apreciariam, porque foi apenas uma reflexão. Na verdade, fiquei até com medo de ter cometido algum equívoco.
Mas, enfim, gostaria de agradecer.

=)

Neuda Lúcia disse...

Stella, sinto muito mas tenho que te desejar mais DORES, se com sua dor passou esse texto que mais parece uma conversa informal, com tanta cultura, então...que tenha dores, para que Eu e muitos possamos aprender de maneira tão clara o que tentam complicar.
"É atributo dos seres humanos a contradição e a busca pelo novo, mesmo que de novo tenha apenas a roupagem".
Para mim ficou essa frase(linda) e a clareza do que antes era meio confuso. Parabêns

Anônimo disse...

Grata pelo comentário, Neuda.
Fiquei muito feliz e emocionada ao descobrir que o texto tinha um objetivo e este foi alcançado.
Quanto às dores, a minha mãe disse algo semelhante quando leu, ainda acrescentou que eu me empolguei tanto com a Literatura a ponto de não mencionar mais a dor. Hehe!

Reitero meus agradecimentos.

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