segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Doce Veneno


Em instantes muito breves eu pude sentir o que almejava há anos. Pude sentir umas das melhores sensações do mundo, se não a melhor. Em instantes, pude viver aquilo que eu sonho todos os dias, aquela realidade ofegante que me levaria a ruínas. Foram tantos os dias e as noites que eu passei em lágrimas no meio dos meus surtos frenéticos. Foram tantas ânsias, medos, falhas, que não conseguiam expressar o furo, o vazio, o parado dentro de mim. Cheia de interrogações! Sonhos amordaçados e quase arrancados de tudo que desejo, de tudo que se desprende. Em instantes eu pude sentir que os meus ideais eram mais do que mera loucura, mera coincidência, que tudo o que eu acreditava era real, era a minha verdade. Como se num passe de mágicas todo aquele mundo cheios de flashes em minha mente estivesse na minha frente pronto para me servir, com um gosto de vinho doce na boca amarga. Em instantes eu sentiria a felicidade batendo no peito, sentiria a brutalidade, a ansiedade entrando pela boca. Tive o pressentimentos de que todas as noites acordadas caindo em lágrimas, caindo em desespero mortal, valeram à pena, que todas aqueles sonhos acordados estariam em segundos, minutos, se realizando. Que alguém iria me salvar da lama movediça de mim mesma. Alguém para me abraçar na noite chuvosa e fria, me fazer sentir as sensações inovadoras. Um alguém até aquele exato momento sem nome, mudo e surdo, que apenas vagava dentro de mim. Parecia que a vida ali estava começando a fazer algum sentido, que até eu mesma desconhecia, como um gosto de viver, um gosto de loucura instantânea que nem eu suspeitaria que acabaria. De repente eu tinha toda aquela realidade que almejava, que só eu acreditava, todos os momentos que eu esperava, aqueles momentos que eu imaginava em frente a tela preto e branco. No meio de todas aquelas pessoas efêmeras eu me senti confiante, senti que era importante de alguma forma, em vez de uma paranóica maníaca uma doçura venenosa. Então, em minhas mãos eu tinha aquele homem, que me perturbava através dos sonhos ocultos, aquele homem que eu esperei a vida toda. O cara dos cabelos longos, do olhar penetrante, do sorriso formal, que ria das minhas babaquices, que falava palavras doces clichês, cheias de perfeição e sintonia, que achava todas as minhas caretas perfeitas e me achava linda até com a pior cara amarrotada do mundo! O que acreditava em mim, com todas as minhas imperfeições aleatórias. Suas mãos quentes rastejavam sobre meu corpo, seu olhar me amordaçava, suas carícias me dominavam, como se fôssemos um corpo só, ardendo naquela noite escura. Eu o amei dentro daquele pequeno instante que nos prendia. Como se agora eu estivesse dentro da roda com o cara “noir” das minhas velhas lembranças. Com a sua pureza e doçura que me encantava. Minha voz ecoava sobre seus ouvidos, baixa, com aquele canto doce e profundo. Senti uma satisfação tão grande de estar ali, viver aquilo sem pretensões! Silêncios, sussurros, entre mínima distância nua de seus lábios. Àquelas horas, que pareciam eternas, eu me sentia inteira, poderia ficar pro resto da minha vida repetindo todas as coisas. Malditas quatro horas onde passaram flashes de tudo que eu busquei ate ali, flashes dos choros, da agonia que eu passei procurando momentos únicos e intensos como aqueles! Momentos os quais passaram e ficou a lembrança daquele bar, daquele bilhar, daquela praça, daquela noite, daquele maldito lugar. E era uma insanidade feliz que todos condenam, todos apedrejavam, como se fosse meio vulgar. Condenam o lugar onde eu pude sentir amor em minhas veias. Repentinamente todas essas coisas se perderam de mim e agora viraram lembranças guardadas em caixas. De felicidade almejada à desgraça inconseqüente. Aqueles palpitantes sentimentos se perderam de minha mente maluca e atordoada, agora até frustrante!Vivendo com a companhia delicada das paredes, que me abraçam, quando lágrimas da saudade caem. Vagas e remotas são as palavras que deixo ecoar sobre esses momentos divinos, nenhuma palavra, nenhum gesto, descreveria aqueles únicos momentos sublimes! Mesmo que toda essa perfeição tenha escoado, que esse cara “noir” tenha sumido de meus contos, mesmo que a realidade agora me faça sangrar, eu ainda acredito, acredito na minha verdade, na minha realidade abatida em minha mente. A loucura me levou a ser apenas o seu doce veneno, traçado na lembrança daquela velha cidade.
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Millena da Silva Bastos
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