terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Lobato e a Reforma Ortográfica


O danado do Lobato, com perdão do clichê, era mesmo homem à frente de seu tempo. No início do século 20, um acordo entre Brasil e Portugal instituiu novas regras para o idioma. Foram mandadas para a lata do lixo consoantes dobradas e inúteis (como o ph de farmácia). Em compensação, foi estabelecida uma série infernal de acentos, muitos dos quais a atual reforma, prevista para começar ano que vem, cuidará de extirpar novamente. Lobato deu uma banana para o tal acordo ortográfico. Olha só o que dizia a respeito:

1. Imbecilidade
“Tenho horror à imbecilidade humana sob qualquer forma que se apresente. Há uma lei natural que orienta a evolução de todas as linguas: a lei do menor esforço. Os tais acentos a torto e a direito que os reformadores oficiais impuseram à nova ortografia vêm complicar, vêm contrariar a lei da evolução. São, pois, uma coisa incientifica, tola, imbecil, cretinizante e que deve ser violentamente repelida por todas as pessoas decentes".

2. Pau neles
"A criação de acentos novos, como o grave e o trema, bem como a inutil acentuação de quase todas as palavras, não é desenvolvimento para a frente e sim complicação, involução e, portanto, coisa que só merece pau, pau e mais pau."

3.Tempo perdido
"A maior das linguas modernas, a mais falada de todas, a de mais opulenta literatura – a lingua inglesa – não tem um só acento. E isto teve sua parte na vitoria dos povos de lingua inglesa no mundo, do mesmo modo que a excessiva acentuação da lingua francesa foi parte de vulto na decadencia e queda final da França. O tempo que os franceses gastaram em acentuar as palavras foi tempo perdido – que o inglês aproveitou para empolgar o mundo."

4. Paspalhões
"Não há lei humana que dirija uma lingua, porque lingua é um fenomeno natural, como a oferta e a procura, como o crescimento das crianças, como a senilidade etc. Se uma lei institui a obrigatoriedade dos acentos, essa lei vai fazer companhia às leis idiotas que tentam regular preços e mais coisas. Leis assim nascem mortas e é um dever civico ignora-las, sejam lá quais forem os paspalhões que as assinem."

5. Não sou carneirinho
"Trema!... Acento grave!... Imbecilidade pura, meu caro. (...) A aceitação do acento está ficando como a marca, a carateristica do carneirismo, do servilismo a tudo quanto cheira a oficial."
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6. Que nojo!
"Eu, de mim, solenemente o declaro, não admito esses acentos em coisa nenhuma que eu escreva, nem leio nada que os traga. Se alguem me escreve uma carta cheia de acentos, encosto-a. Nem leio. E se vem alguma com trema, devolvo-a, nobremente enojado..."

(Extraído e editado de uma nota introdutória ao livro Negrinha)

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