A bicicleta
Ronie Von Rosa Martins
Ronie Von Rosa Martins
Não. O tempo não estava no movimento. Ele pensava. O tempo estava na bicicleta. Imóvel encostada ao muro.
Sim. O movimento era apenas ilusório, o tempo era além dele. Era imobilidade. Sim.
O muro estático e a bicicleta plantada em suas costas. Sustentação tácita. Amparo. O verbo já não existia. O verbo era distância. De fundo o azul chumbo de um céu imóvel como o tempo. Assim como ele. Estático.
Os aros da roda já não deliravam pelas estradas, mas uma massa de tempo enlouquecida se embrenhava imperceptível por eles. Silencioso enroscava-se no metal da bicicleta, retorcia-o. E ele percebia.
O tempo estava. Antes do movimento. Antes do verbo. Antes da representação do movimento. Antes da representação da fala. Ele.
Os pensamentos tentavam se constituir, mas a densidade temporal era anti-constitucional, e os pensamentos e também os sentimentos mesclavam-se em mechas de tempo e no metal da bicicleta e no barro do muro e na carne que era dele.
Então chorou. Silenciosa a lágrima percorreu pele e carne e porosidades e espaços e lembranças. E fez-se memória e apagou-se-extinguindo-se no silêncio da terra. E não houve outra.
Só a bicicleta muda. E dizia tanto. E gritava tão alto. E o muro permanecia além do próprio muro,visto que agora era lembrança. E também a bicicleta. Verde. Não o muro. Este cinza e velho. Como ele.
Cinza e velho ele percebia o tempo, e a bicicleta e o muro. E se tudo era símbolo. Era ele símbolo. Fechou a mão lentamente e pode sentir o tempo pulsando dentro, e afundar-se na carne e mergulhar pra dentro do corpo. E tudo pulsava e tudo era quente.
Tudo era quente no silêncio da bicicleta.
O movimento já não era necessário. Assim como o muro resolvera ficar. Coisificar-se no tempo. Plantar-se.
Achava que os outros viam por janelas. Ele via fora de casa. Via tudo. E tudo era a bicicleta e o muro. Não havia ilusão, não havia ângulos, só a bicicleta e o muro pendurados no tempo, emoldurados no tempo. De onde estava ainda via os rostos pálidos das gentes que passavam pelas janelas. Viam a delimitação da janela, o limite do olhar e a ilusão do movimento. Não viam nada.
E foi tudo o que viram. Todos eles: Um velho sentado em frente a uma antiga bicicleta escorada a um muro ainda mais antigo que o velho. E só.
Sim. O movimento era apenas ilusório, o tempo era além dele. Era imobilidade. Sim.
O muro estático e a bicicleta plantada em suas costas. Sustentação tácita. Amparo. O verbo já não existia. O verbo era distância. De fundo o azul chumbo de um céu imóvel como o tempo. Assim como ele. Estático.
Os aros da roda já não deliravam pelas estradas, mas uma massa de tempo enlouquecida se embrenhava imperceptível por eles. Silencioso enroscava-se no metal da bicicleta, retorcia-o. E ele percebia.
O tempo estava. Antes do movimento. Antes do verbo. Antes da representação do movimento. Antes da representação da fala. Ele.
Os pensamentos tentavam se constituir, mas a densidade temporal era anti-constitucional, e os pensamentos e também os sentimentos mesclavam-se em mechas de tempo e no metal da bicicleta e no barro do muro e na carne que era dele.
Então chorou. Silenciosa a lágrima percorreu pele e carne e porosidades e espaços e lembranças. E fez-se memória e apagou-se-extinguindo-se no silêncio da terra. E não houve outra.
Só a bicicleta muda. E dizia tanto. E gritava tão alto. E o muro permanecia além do próprio muro,visto que agora era lembrança. E também a bicicleta. Verde. Não o muro. Este cinza e velho. Como ele.
Cinza e velho ele percebia o tempo, e a bicicleta e o muro. E se tudo era símbolo. Era ele símbolo. Fechou a mão lentamente e pode sentir o tempo pulsando dentro, e afundar-se na carne e mergulhar pra dentro do corpo. E tudo pulsava e tudo era quente.
Tudo era quente no silêncio da bicicleta.
O movimento já não era necessário. Assim como o muro resolvera ficar. Coisificar-se no tempo. Plantar-se.
Achava que os outros viam por janelas. Ele via fora de casa. Via tudo. E tudo era a bicicleta e o muro. Não havia ilusão, não havia ângulos, só a bicicleta e o muro pendurados no tempo, emoldurados no tempo. De onde estava ainda via os rostos pálidos das gentes que passavam pelas janelas. Viam a delimitação da janela, o limite do olhar e a ilusão do movimento. Não viam nada.
E foi tudo o que viram. Todos eles: Um velho sentado em frente a uma antiga bicicleta escorada a um muro ainda mais antigo que o velho. E só.
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