sábado, 16 de abril de 2011

MARCAS QUE DEIXAMOS



Vivenciar a morte nos faz refletir sobre o que realmente importa na vida. Acompanhei a trajetória do meu pai desde criança, quando ele dizia não poder se envolver em política por ser um funcionário do Banco do Brasil. Mas, se ele não era político, por que recebia em nossa casa os grandes nomes da política do Estado do Rio de Janeiro? Na nossa sala de estar vi meu pai receber governadores, deputados e senadores. Por lá passaram Amaral Peixoto, Celso Peçanha, Moreira Franco, César Maia e muitos deputados de Brasília e da capital. Todos iam a Itaperuna pedir apoio ao Claudio Cerqueira Bastos. Quantas vezes acompanhei meu pai ao palácio do Ingá, (pois Niterói ainda era a capital do Estado do Rio de Janeiro) e lá ele era recebido atenciosamente pelo governador e pelos deputados. Logo após a audiência os políticos se reuniam para almoçar ou jantar no restaurante Monteiro. E lá íamos nós, todos aqueles políticos importantes, meu pai e eu.

Naquela época nos hospedávamos no hotel Imperial e frequentávamos lugares bonitos para falar com pessoas importantes. Eu, ainda menina, não entendia a razão pela qual meu pai (não sendo prefeito nem vereador) se preocupava tanto em ajudar pessoas e pedir benfeitorias para a cidade.

Dedicou-se a eleger deputados como Rubens Ferraz e alavancou a primeira vitoriosa campanha que faria de Moreira Franco um deputado federal. Apoiou muitos políticos. Somente depois de aposentado do Banco do Brasil assumiu sua verdadeira vocação de "homem do povo". Começou tarde sua carreira política, segundo os padrões convencionais, mas ele nunca foi homem de se encaixar em padrões. Ousava, confiava e vencia. Assim foi dando significado à sua vida, à medida que enchia de significado a vida de muitas pessoas... de uma população. Eu admirava o modo como ele se relacionava com as pessoas, a sua boa educação, a sua voz suave, o seu perfume francês habit rouge da guerlan e os seus elegantes ternos de linho branco. Como ele podia ser tão simples e tão sofisticado ao mesmo tempo? Como aquele homem que circulava no palácio do governador, voltava para a sua cidade, colocava o seu chapéu de panamá para se proteger do forte sol e ia levar pessoalmente pão com mortadela e guaraná para os operários que trabalhavam nas obras que construíam uma nova Itaperuna? Cresci vendo o meu pai amar e se entregar a essa cidade, mas mesmo assim ele encontrava tempo para a família, para a banda de música, para o Porto Alegre Futebol Clube, para a AABB, para o Renascença e principalmente para colocar no mais alto dos morros o Cristo Redentor. Em todos esses momentos de extrema felicidade eu estava lá compartilhando a sua alegria. Ficava feliz por ele! Achava lindo vê-lo se sentir assim! Parecia pleno e irradiante! Existia entre nós tanta afinidade que nos entendíamos sem precisar falar, assim mesmo gostávamos muito de conversar. Eu olhava para aqueles olhos cor de mel e concluía: é bom se sentir assim! Dele herdei o dom da música, o dom da palavra, o dom do trabalho, o dom da coragem e principalmente o dom de fazer mais com menos nas horas difíceis. Agora que ele partiu sei que vou sentir saudades! Não posso ver um velhinho de chapéu que me vem o impulso de ir correndo ao seu encontro. Ainda pego o celular para ligar para ele enquanto caminho na praia.

Ainda me pego indo comprar bolo de nozes e bacalhau para ele comer. Eu gostava de alimentar saborosamente seu corpo tão magrinho e ele sabia alimentar minha alma com suas histórias, seus comentários divertidos, seu senso protetor, seu amor e sua confiança em mim. Ele se preocupava com o meu futuro e as incertezas da vida. Sonhou para mim muitos sonhos, mas sabia que minha vida só teria graça se eu mesma cuidasse disso. Respeitou e apoiou todas as minhas decisões, ainda que não concordasse com algumas delas. Soube ser o pai que eu queria, que eu precisava e que eu amava tanto! Agora que ele já não está mais ao meu lado, viverá para sempre dentro do meu coração! Partiu deixando em mim a certeza de que tudo na vida passa, mas o que realmente fica são as marcas dos bons relacionamentos que construímos ao longo da vida. Ele se foi carregando uma linda bagagem de amor e deixou sua marca dentro dos nossos corações e em todos os cantos da sua amada Itaperuna!

Por Claudete Machado Cerqueira / Stillo Off / Março 2011

Três meses sem Claudão!

A Família Cerqueira Bastos

convida para uma missa que será

realizada na Matriz São Benedito , neste dia 16 de Abril, às 19:30h

pela alma de Cláudio Cerqueira Bastos.

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2 comentários:

Outra Revista disse...

Ábia Dias disse por e-mail.

Lindíssimo, Beth, e muito emocionante! Vou repassar para amigos e itaperunenses que estão fora.
Beijo

MORI disse...

Parabens a Claudete pelas lindas palavras que certamente demonstram a grande pessoa que era Claudão!
Sucesso e a vida continua.

Mori