terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Tecos da Vida Real.

No capitulo de nº. 6 da novela "Caminho das Índias", uma cena trouxe-me a lembrança de um acontecimento pessoal, parecido ao vivido pelo personagem Dr. Castanho.
Na cena ele ao ver que o seu colega de clinica coloca uma de suas canetas fora do lugar, imediatamente a recoloca num receptáculo onde outras canetas da mesma cor e modelos estão.
A minha cena acontece no ano de 1972. Neste ano eu vivia de forma verdadeira e intensa a minha primeira paixão.
Na verdade, vivíamos! Pois Helena também estava apaixonada por mim.
Éramos na opinião de moradores do bairro da Cruz Vermelha, centro do Rio de Janeiro, o casal mais representativo do amor que deveria existir entre um homem e uma mulher.
Mas havia uma situação que nos incomodava e começava a nos trazer complicações.
Nesta época eu ainda não completara 17 anos e Helena estava com 21 anos já feitos.
Nosso romance acontecia há dois anos e a hora da verdade para cada um de nós aproximava-se de forma a revelar os caminhos dos nossos destinos.
Eu a quem cabia as mais importantes decisões, estava numa ferrenha briga com o mundo material pela vitória do meu sentimento. Mas estava dando tudo errado e a cada dia a minha batalha se transformava num doloroso angustiante fracasso.
Eu queria dar o Sol e a Lua para Helena, porém não conseguia dar um passo rumo à satisfação das necessidades daquela que eu queria que fosse a minha mulher, para sempre!
A primeira vitima da minha temporal depressão, foi a minha mãe, que, com muito jeito, e apoio da Helena, conseguiu me convencer a procurar ajuda com um especialista médico.
Minha mãe marcou uma consulta com um Psicanalista (Analista na época ainda não era uma expressão em moda) do setor de Psiquiatria do então INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).
Eu cheguei ao posto do Instituto acompanhado de Helena, em atenção a minha mãe, a quem conhecia, o Doutor permitiu que Helena participasse da sessão. Para minha mãe, Helena era a garantia de que eu não entraria em parafuso durante a consulta.
Entrei na sala e aquele homem de jaleco branco, calça jeans e alpargata, indicou-nos as cadeiras postadas à frente da sua mesa. Pediu que o aguardássemos por um instante e saiu da sala, com passos tão rápidos que seus longos cabelos, já embranquecidos pelo tempo, esvoaçaram.
Eu e Helena, nos dedicamos então a correr os olhos pela sala onde uma mesa com livros e papeis espalhados desordenadamente se impunha sobre os demais móveis. Uma velha prateleira, onde o sebo nos vidros dificultava muito ver o que havia lá dentro, parecia querer desabar a qualquer momento, tamanha a sua inclinação. Na parede uma estante de jornais velhos, empilhados, tendo em cima um telefone, cuja função era a de servir de peso para que a pilha não se deslocasse para um dos lados e viesse ao chão. O fio desse telefone estendido em paralelo à parede, parecia uma serpentina, e não tinha função nenhuma. A tomada ficava do outro lado da sala e nela estava ligado um preguiçoso ventilador.
O empoeirado ventilador, sempre que completava o seu curso, emitia um barulho como o de uma régua chocando-se contra uma lousa.
Teck....Teck...Teck....Teck
Um homem, com roupas de serviços em manutenção, entrou na sala, passou por nós, sem sequer nos olhar, ajoelhou-se diante do ventilador e ficou a mexer até que se levantou e tal como entrou, saiu da sala. O ventilador parou de emitir aquele som sem sentido para nós e até ficara mais veloz e ventoso.
Alguns minutos depois, o Doutor retornou a sala e se colocou diante de mim do outro lado da mesa, disposto a ouvir-me. Nossa conversa ia bem, mas não durou muito. De repente o Doutor parou, como a farejar algo no ar. Colocou o seu indicador diante dos lábios impondo-me o silêncio e virou se em direção ao canto onde estava o ventilador.
Ficou por instantes a olhar aquela peça de museu e no minuto seguinte explodiu.
O que se seguiu a essa explosão, foi um corre corre de pessoas, entrando e saindo da sala, procurando: Primeiro acalmar o Doutor e na seqüência encontrar o funcionário que havia mexido no ventilador e dele retirado o Teck.
O funcionário (Coitado!) foi encontrado e colocado diante do seu algoz. Após passar pela ira do homem de branco que o colocou num nível de idiotia absoluta, voltou a se ajoelhar diante do ventilador e dali só se levantou quando finalmente conseguiu colocar nele de volta, o Teck.
O êxtase do Doutor diante do seu ventilador tal como era antes, durou uns 15 minutos, findo os quais ele lembrou-se de mim e retomou a consulta.
Ah! Você deve encontrar-se curioso quanto ao diagnóstico desse médico, dado ao meu dilema.
De fato! Ele o resolveu, indo ao fundo do problema...mas isto é assunto para um novo capitulo da minha própria novela.
Aguarde!

Autor: Celso Corrêa de Freitas – CCF
.

Um comentário:

Anônimo disse...

Agradeço a publicação do meu texto. Ela, agrega valor ao meu trablaho literário, principalmente por levar aos Itaperunenses a minha busca por bem representar Itaperuna, aqui em Praia Grande-SP.
Um abraço a todos e fiquem a vontade para comentar. Estou providenciando o envio do 2º Capítulo.
CCF
www.portalpoeticoccf.blogspot.com
www.catraca-pg.blogspot.com