quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Arte de Ser Má e Continuar Amando. Por Rita Côre





Aos colegas de magistério, em fim de ano letivo.   Por Rita Côre.

A frase-título desta postagem parece uma contradição. Mas, os que foram criados antes da permissividade, do desrespeito generalizado, da falta de limites confundida com liberdade de ser - até literalmente alguém não "ser" mais nada - certamente me entenderão. Discute-se muito a qualidade de ensino no Brasil. Onde estará o fundo do poço? Não sei. Quando pensamos que as coisas vão melhorar, volta tudo à estaca zero. Ser ou pretender ser educador é um suplício de Sísifo (cf com o google). Escola e família perderam a autoridade. E o que dá autoridade? Conhecimento, conduta moral, respeito às regras de convivência e daí por diante. Professores perdem o conhecimento, porque a eles já não é dada a oportunidade de construí-los, pois também são o resultado de uma formação pobre. Nesse caso, então, não perdem, pois na verdade não têm. Cria-se um círculo cruel. O PROFESSOR NÃO É VALORIZADO, PORQUE NÃO POSSUI SABERES OU NÃO POSSUI SABERES, PORQUE É DESVALORIZADO? Eu sempre desconfiei de que os professores tivessem "cara de biscoitos Tostines", afinal eles costumam ser triturados e mastigados na sala de aula, às vezes até engolidos pelas turmas e pelo sistema que os engessa e "liberta" os alunos de regras disciplinares. Aliás, não sei por que ainda existem professores, já que é tão fácil copiar tudo na internet e é bem melhor brincar com o celular e outras parafernálias tecnológicas do que estudar. É simplesmente torturante. Onde entra a "arte de ser má e continuar amando"? No momento e no lugar em que especialmente as “tias” dos primeiros anos escolares ou a própria mãe ganham voz e- apenas por amor - tentam educar. O que, no caso da escola, professor e professora passam a ser?Intransigentes, chatos e... Não continuo, porque não acho de bom tom usar os xingamentos com que estudantes, e até algumas famílias, presenteiam esses profissionais, já em séries mais adiantadas. 

Mas, se as mesmas e quixotescas figuras “deixam passar” os abusos, o que são? ‘“Bananas”, pra não usar uma palavra mais comumente repetida nos tristes arraiais das escolas e por filhos insubordinados, em relação aos seus próprios pais. Enfim, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Mais um dito popular. O texto está cheio de lugares-comuns. Pobreza de linguagem? Talvez. Mas pode ser um recurso apropriado a um repetitivo e triste ciclo de ação e reação: o clichê da falta de limites em confronto com os que desejam demonstrar que praticar excessos, e o não atendimento a comandos, é mais do que indisciplina, revelam sintoma de despreparo para a vida que nos impõe “stop”, em muitos sinais do trânsito da existência. A criança que não atende a comandos poderá ser um adolescente sem limites, de difícil controle para a família. “Poderá’, pois se lhe for dada a oportunidade de desenvolver o senso crítico, é possível também NÃO OBEDECER A “COMANDOS”, no caso de serem inadequados e perigosos. Discernimento. Eis um caminho para a sabedoria de viver. 

É preciso muito amor e muita coragem para "contrariar", pois ninguém quer ser contrariado. Para rimar, resta-nos uma esperança: a criança. E uma saida: o professor que se faz por si mesmo, que rema contra a maré e teima em fazer a sua parte. Ambos se encontram, a coisa pode dar certo. Aqui ainda se acha a graça da descoberta de pequenas alegrias. Com um grupo reduzido de meninos e meninas é possível trabalhar. Sim, não há dúvida. Mas essa situação é rara. Escolas públicas estão abarrotadas de alunos. Escolas particulares começam a "inchar", pois são procuradas não só pelos que têm mais recursos financeiros, mas também por famílias que, reconhecendo o valor da educação, fazem sacrifício de pagar por ela. Mas diante dos resultados das "rédeas soltas" de um tempo em que tudo era criatividade, como pular no sofá insistentemente, rabiscar as paredes, fazer pirraça - pois não se podia zangar, que a criança ficaria traumatizada - chegamos à era da "Supernanny", pondo ordem no caos. Mas ser Supernanny é cansativo, desgastante, estressante, quando se trata de exercer tal ofício com um grupo, numa escola, e não numa casa bonita do primeiro mundo com um casalzinho de pimpolhos. Mas voltemos ao jovem. Tudo está perdido no mesmo saco? Claro que não. É possível ser um professor carismático e, ao mesmo tempo, respeitado. Este tem suas vantagens, não carece de “academia”, pois de tanto que transpira e se esforça está abaixo do peso. Ao final do dia, está "um trapo". Ou não faz “academia”, também, porque não adianta: tem gula noturna, está sempre com sobrepeso, por mais que malhe ou caminhe. De qualquer forma, nem que seja uma vez ou outra, ele é “malhado”... 

Por enquanto, A “ESCOLA PARA CRIANÇAS” É UM BELO OÁSIS. Mas se perderá no deserto se as demais crianças não tiverem a mesma qualidade de ensino. Qualidade de ensino e formação ética e moral. Compreensão dos perigos e riscos de viver e a inteligência para aplicar esse entendimento responsável ao mundo de relações. O indisciplinado não é livre, é escravo da suas vontades e caprichos. Saber protestar, contestar, é fundamental. Nas causas justas e pelo bem próprio ou comum. Mas o desperdício das forças e pirraças do ego que se sobrepõe a tudo e a todos é mais que desperdício , quando temos a responsabilidade de conduzir crianças à descoberta de si mesmas, como agentes das próprias escolhas, sem se tornarem marionetes de um mundo consumista e mediocrizante. 

Eis um grande desafio. Interferir na hora certa para educar, às vezes dói muito. E porque dói, professores e pais se tornam omissos por medo ou acomodação. É mais confortável deixar pra lá. É gratificante ter fama de “bonzinho, boazinha e legal”. Um barato, fato. Mas costuma sair muito caro. Por isso, especialmente a professora dos primeiros anos escolares não deve ter medo de ser tachada de má ou “brava”, nas interferências que fizer para impor limites aos seus alunos, explicando o porquê de tais medidas disciplinadoras. Porém, nunca é demais lembrar que Autoridade é diferente de mero “autoritarismo”. A autoridade ama, o autoritarismo simplesmente castra. Educar dói, sim. Mas não é missão sacerdotal é exercício de amar verdadeiramente, olhando além das circunstâncias imediatas. Disciplinar, sim. Mas nunca deixar de amar. O resgate, ou conquista, da boa qualidade da “ensinança” depende, e muito, de uma relação de respeito ao professor e de parceria, família/escola. EIS O NATAL para a educação, senão no Brasil, pelo menos por onde andamos e vivemos.



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