sábado, 8 de agosto de 2009
MÃOS À PALMATÓRIA
As pessoas começam a envelhecer quando dizem “no meu tempo não era assim...”, quando eu era moço...”, “antigamente é que...”. Dizem isso, invariavelmente, por uma dificuldade de compreender e aceitar a realidade. Não estamos falando aqui de idade cronológica; mas mental, comportamental. Ao contrário dos seus contemporâneos, minha mãe sempre diz que tempo bom é o de hoje. E desfia um rosário de dificuldades que viveu na sua juventude em elogio às novas tecnologias que exemplifica com o chuveiro elétrico, o ferro de passar roupas a vapor, o fogão à gás, o liquidificador etc. Ora, até mesmo para este quarentão, é difícil entender a vida sem essas facilidades tecnológicas nem tão novas assim. Acho que herdei dela esse sentimento evolucionista. Não posso admitir que a humanidade ande em algum momento para trás. A história ajuda a compreender o presente e até orienta o futuro. Entretanto, ela não é uma alternativa de vida.
Tenho ouvido muitos discursos surrealistas, sobretudo dentro da Escola, apregoando a volta de certos valores do passado - mais ou menos na base do “vigiar e punir” - que resultassem em joelhos nos caroços de milho, mão à palmatória e que tal. Um saudosismo meio mórbido e fantasioso de que seja possível viver esses tempos tão dinâmicos e inclusivos de hoje na base dos vinte quilômetros por hora, velocidade que os automóveis alcançavam em mil e novecentos e antigamente. E, o que é pior, dentro de ternos de casimira e vestidos plissados.
Neste dia 11 de agosto também se comemora o dia do estudante. Apesar de a data ter sido criada numa referência à instalação de dois cursos de Direito, sempre penso no dia em relação às crianças e aos jovens. Isto porque na minha cabeça a infância e a juventude são os melhores e mais proveitosos momentos para se estudar sistematicamente. Além disso, gosto de ver a vitória da infância e da juventude na luta secular pelo reconhecimento de sua cidadania e de que este período da vida é produtivo, pois estudar é também uma forma de trabalho, ainda não remunerado.
O cientista inglês David Bainbridge, um evolucionista, tem afirmado ser entre os 11 e 20 anos que muitas das habilidades humanas são desenvolvidas. E vai mais adiante: “Sem a adolescência, os seres humanos não passariam de uns bobos incoerentes dotados de um cérebro enorme.”. Muita gente inteligente já sabia disso, mas reluta em aceitar. Já a minha aversão é pela situação que os números do Laboratório de Análise da Violência da Uerj revelaram esses dias. Segundo os dados, “cerca de 33.504 adolescentes brasileiros - de 12 a 18 anos - serão assassinados em um período de 7 anos, que vai de 2006 a 2013”, se nada for feito pelos governos e pela sociedade.
Se continuarmos perdendo nessa proporção os nossos jovens, de um lado pela violência homicida e de outro por uma Escola cujos professores querem uma clientela adestrada e disciplinada que não lhes dê muito trabalho para escolarizar, a falência é certa como o dia amanhecerá, queiramos ou não.
Por isso, desejo prestar esta homenagem a todo estudante desse país. Fazer hoje um mea culpa, por que não?! Somos nós que existimos para você e não o contrário. Desculpe-me e aos meus colegas professores:
Por querê-lo igual aos outros;
Por desdenhar dos seus direitos;
Por debochar do seu desconhecimento;
Por ter feito a pegadinha na avaliação;
Por “valorizar” os seus erros;
Por menosprezar seus acertos;
Por não ter preparado a aula;
Por não entregar os resultados em tempo;
Por compará-lo;
Por não reconhecer o seu time;
Por tentar convencê-lo das minhas verdades;
Por buscar cooptá-lo;
Por ter faltado à aula;
Por ter usado você para uma desculpa;
Por tê-lo chamado de preguiçoso;
Por ter sido deliberadamente injusto com você;
Pela impaciência;
Pela intolerância;
Pela covardia;
Pelo mau juízo;
E por tudo que fez você sofrer.
Professor Zeluiz
http://professorzeluiz.blogspot.com/
Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna
Crônica publicada na Revista Canal da Cultura - CAE de agosto/2009
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